Deixa pra amanhã

Um dia, você vai chegar em casa esgotada e vai pensar que não tem forças pra nada, mas que, mesmo assim, vai fazer o que tem que fazer. Vai se arrastar pra cumprir com obrigações que não cabem no horário de trabalho ou que não são trabalho ou que, sequer, você sabe de onde surgiram.

Nesse dia, uma voz interior vai dizer que você pode, você consegue, que o cansaço não vai te vencer. Nesse momento, seria bom que outra voz entrasse na briga e vencesse, te convencendo do contrário.
Dizendo que você pode ir dormir às nove da noite se quiser.

Que você pode esquecer essa jornada tripla por um dia, colocar as pernas pra cima e ver uns seriados até cair no sono.

Que você pode passar uma noite sem olhar sua caixa de entrada e nada de aterrorizandte vai acontecer por isso.

Que é normal sair do banho sem coragem nem pra se vestir, quanto mais de passar mil cremes.

Que nem tudo que você faz precisa ser útil e nem todo o tempo precisa ser otimizado.

Que tem dias onde você tá indisposta até pra se divertir.

Bastava essa vozinha antagonista e marota dizer cada frase dessas do jeito certo. A gente largava um pouco da culpa e caia num confortável e merecido canto pra, no dia seguinte, recomeçar a jornada. À espera de uma nova visita da tal vozinha preguiçosa e gente boa.