O velho também é bonito

Sabe o que é chato? Ler alguém dizer numa revista que pode repetir roupa, que isso não é errado. Eu preferia mil vezes ler alguém dizendo que não pode repetir, que roupa é descartável e, se você dividiu em dez vezes no cartão, azar o seu, porque é pra usar uma vez e tchau.

Porque, quando essa pessoa publicasse isso das roupas não poderem ser repetidas, a revista ia receber uma enxurrada de cartas, emails telefonemas e gritos em praça pública reclamando, com razão, da bobagem publicada. Mas quando o texto diz que, sim, você pode repetir, é como se geral ficasse feliz e pensasse "ufa, finalmente deixaram".

Gente, eu realmente gosto de coisas novas surgindo a todo momento e tudo funciona melhor se a gente olha pro que é novo como nova opção e não com nova necessidade (difícil mas a gente aprende), mas já deu das coisas perderem o valor assim que saem da loja. Vestir roupa nova é massa mas tem que ser massa vestir a roupa velha, ela é mais sua do que nenhuma outra. Em tempos onde a gente compra muito fácil e enjoa fácil também, ter roupas que continuam fazendo sentido por anos é luxo.

Sinto falta de ver mais disso, sabe? Os grandes veículos vão sempre mostrar o que é lançamento, o que é desejo, mas nós, ah gente, nós podemos mostrar o que é nosso. Não porque a gente pagou por isso, mas porque faz parte de nós. Por mais que se goste de novidades (como eu imagino que seja o caso de todas nós), roupa de estimação é mais gostosa e sempre ajuda o novo a perder a cara de manequim pra ganhar corpo de gente.

Esse é um post a favor do desgaste, a favor do puído, a favor de furos e desfiados (os que vêm do tempo, não de fábrica). Por mais solados gastos, por mais roupas que saibam andar a cidade sozinhas. Afinal, alguém nesse guarda-roupa tem que ensinar os caminhos pras que chegaram agora. Por menos roupas da estação e mais roupas de estimação.

O post é dedicado e esse sapato, que me deu vontade de desencaixotar muita coisa.