Pare de choramingar e vire alguém importante

Você sempre tem a sensação de que está seis meses atrás do mundo, de que suas roupas desse verão foram compradas no inverno passado e tem cara de um ano atrás, que nunca conseguiu - nem vai - adiantar uma tendenciazinha que seja, nem das mais mixurucas.

Sabe de quem é a culpa por isso?

Do mundo? Da obsolescência programada da moda? Do seu salário que só compra o que sobrou nas liquidações?

É sua, sinto dizer. Toda sua. Não adianta querer responsabilizar alguém se é você que não tem o it factor, o plim da ousadia, da vanguarda. Apesar disso, a vida não te foi totalmente má, e me colocou no seu caminho pra contar como é possível vencer toda essa sua tendência ao last season.

Você deve estar em polvorosa pra saber como se livrar de tamanha mediocridade, deve, inclusive, pensar que terá que escalar um grande muro até alcançar a graça da graça, mas não, sua bobinha: vou contar como eu venci - como você pode vencer - as três lições básicas para transformar a sua vida, cada pedaço do seu cotidiano, cada objeto em que você toca em ten-dên-cia. Me agradeçam de longe, com acenos.

1. Você pega ônibus, não pega? Pega que eu sei. Não entre no ônibus de qualquer jeito, não conte as moedas da passagem, não faça cara de cansada. Aprenda: você é uma milionária escandinava que veio ao terceiro mundo aprender como é a vida sem IDH, você entra no transporte público com o frescor de quem acaba de conhecer tamanho exotismo. Você fala do coletivo com paixão. Aliás, fale com paixão de tudo o que faz parte da sua vida, logo todos vão se convencer de que tudo nela é realmente cool.

2. Quando seu cabelo estiver assanhado e alguém disser "seu cabelo está um pouco assanhado", diga "droga!" e assanhe mais ainda. Depois fale o quanto dá trabalho assanhar seu cabelo escorrido como cataratas andinas todas as manhãs, e que mesmo com tanto esforço, é preciso repetir o processo várias vezes ao dia, mas vale o transtorno que custa.

3. Entenda de uma vez por todas que aquilo que você faz de camisa manchada com água sanitária e cabelo amarrado com restos de meia-calça não se chama faxina. Isso que se faz com vassoura e desinfetante é cumprir seu papel social no habitat, é sinal de uma compreensão mais orgânica do seu nicho. Limpar a sujeira que a sua existência produz todo dia é uma missão a que você se propôs porque quis (fale com ênfase a parte do "porque quis").

Entendeu como é simples? Basta fazer com que tudo o que você faz pareça o ideal a ser feito. Convença, mocinha, convença.

Ou dê importância às coisas que merecem importância e pare de achar que precisa ser algo diferente do que é pra ser alguém.