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Logomania - o estilo ou o status?

Em mil novecentos e oitenta e poucos, os estilistas já não tinham lá tanto poder pra ditar o que ia bombar na estação, pelo contrário, as ruas é que davam as coordenadas do que devia chegar às semanas de moda.

Nessa época, os punks, os clubbers, o pessoal do hip-hop, um pouco depois - já nos anos 90 - até os atletas (quem não se lembra de quando as três listras da Adidas viraram hit?) e mais outro monte de grupos de cabelo ao vento e gente jovem reunida eram inspiração. Eles não tavam muito preocupados em usar o que era o último grito da moda, na real eles queriam usar o que gritasse pro mundo o estilo deles, o que os destacasse da multidão.

Aí, no fim dos anos 90, em resposta a essa moda do "eu faço meu estilo", em que as roupas valorizavam - ou buscavam destacar- a personalidade dos grupos que as vestiam, surgiu a logomania.

Como o nome já dá a entender, agora pouco importava o que você vestia, desde que fosse caro, de grife e que a marca tivesse muito destaque na peça: nessa onda do fim dos anos 90, bom mesmo era quando a roupa elevava seu status. Mostrar-que-tem-grana (ou fazer parecer que tem) virou o novo mostrar-que-tem-estilo.

Erika Palomino, no livro A Moda, diz que alguém chamou essa vibe de "moda do duty free", porque a grife tinha que aparecer pra valer na peça, como acontece com os produtos dos free shops de aeroportos.

Pra sorte dos nossos guarda-roupas, os anos 2000 vieram e trouxeram com eles muita gente - ah, esses jovens criativos - disposta a deixar tudo o que veste com a sua cara. Customização virou a nova palavra-chave, não só porque ficou comum fazer intervenções nas roupas - cortar, costurar, reinventar - mas porque o que valia, agora, era se vestir com criatividade, misturar as coisas de um jeito novo, enfim, dar à roupa uma cara só sua.

Em tese, é basicamente nesse contexto que a gente vive até hoje: a ousadia voltou a ter um espaço maior, a moda das ruas voltou a influenciar fortemente a moda das passarelas e o tédio da logomania é coisa do passado.

Bueno, não sei se ando tomando as coisas erradas como referência, não sei se a moda anda tão mais democrática - e por isso a gente vê de tudo um pouco - ou se o pior aconteceu e estamos presenciando a volta da logomania. Sei lá, vai que com essa crise econômica recente, as pessoas sentiram a necessidade de se afirmar financeiramente, aí a indústria da moda viu a oportunidade e deu à geral o que a geral queria: coisas que não valem muito pelo que são, mas pela marca que carregam.

Lógico que essa parte - a da crise - é pura especulação minha, mas que hoje eu tenho visto muito mais ostentação da marca do que há poucos anos, ah, é a pura verdade. E eu não tô falando de pessoas usando peças de grife, mas de meninas andando tortas pra que o braço não cubra os "CC" cruzados da bolsa, dos abomináveis cintos com o nome da maison na fivela, que têm reaparecido com força nas vitrines, enfim, de ver tanta gente vestida exatamente igual, mas brigando pra ver quem carrega mais logotipos gigantes nas roupas que usa.

Eu disse roupas? Pois vai chegar o dia em que a MAC vai ter que fabricar um carimbo com sua marca, por que "que graça tem usar um batom caro se ninguém souber quanto ele custou?". A Chanel, que não é besta, já oferece até possibilidade indolor - bem mais barata que uma bolsa, e até menos feia que uma clog - pra quem quiser carregar sua marca na pele.

Pra mim, logomania tem cara de high-society decadente. Tenho preguiça, muita preguiça, e começo a torcer pra:

1) que uma nova galhera das ruas mostre quem é que manda e marque o início de mais uma era no mundito da moda;

2) que eu esteja errada e esses focos de neo-logomania sejam muito pequenos e só reforcem a idéia de que hoje em dia todo mundo se sente mais livre pra usar o que quiser - inclusive etiquetas gigantes;

3) as duas alternativas acima.

Tomara, tomara mesmo.

Fotos:

14 comentários

  1. Acompanho teu blog já tem um certo tempo, e só hoje, com esse post, percebi que você é "das minhas". Tô super, super, super feliz por encontrar mais uma pessoa "pé no chão" por aqui. E concordo com cada vírgula que você colocou aí.
    Teu blog é ótimo, e pra mim, melhorou ainda mais agora.
    PARABÉNS!
    Beijão.

    Paula Kyrillos

    http://www.mariasnamoda.blogspot.com

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  2. Eu não compro peças com logo gigantes. Acho brega.

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  3. É totalmente coisa de emergente mesmo, que gosta de se sentir "olhem pra mim, eu tenho peça de griffe cara, eu tendo dinheiro, eu posso!". Conheço gente que se pudesse usava logo até no esmalte da unha (Chanel). E aqueles caras patéticos que usam aquelas camisetinhas justas com um nome de griffe americana atrás?? Cara, que coisa de BABACA. Pior que se vc for reparar só faz isso quem não tem classe natural, aquele tipo de gente que pode se vestir com as griffes mais caras mas não vai perder a cara de brega, a ponto de a gente achar que as coisas são falsificadas.......
    No outro extremo tem gente com cara naturalmente fina que pode se vestir de C&A e Marisa e todo mundo jura que ela só compra roupa de griffe.

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  4. Hoje essa moeda tem outro lado: a logomania e o culto às grifes têm que lidar com a pirataria pesada. As patricinhas que compram sem esforço e as remediadas que se esfolam pra ter uma peça "de marca" precisam dividir espaço com a enxurrada de peças iguais às delas, porém falsas. Como se destacar usando LV e 2.55, se em cada esquina tem centenas de cópias, réplicas, "inspired" e afins? Aliás, nunca entendi muito bem esses conceitos. O poder de diferenciação social das grifes vem se esvaindo nas mãos dos orientais que copiam à exaustão suas ricas bolsinhas, e nas das fast fashion da vida (oi, Zara!) que reproduzem as peças do desfile quase que na mesma hora.

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  5. Faço das suas palavras as minhas... belíssimo texto

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  6. Nossa, acho logomania tão cafona, Dani! Muito, muito mesmo!

    Mas olha, acho que a ostentação de grifes vai além da logo gigante, e chega num ponto em que a pessoa acredita que só tal marca "vale a pena" comprar, já notou? A pessoa não arrisca nada além daquilo e, pior, se você faz um elogio "nossa, que camisa bonita!", a pessoa responde "é, custou r$ 198 na Osklen".

    Oi?

    Beijos

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  7. Uau!!! Falou tudo!!!
    BJos

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  8. Infelizmente, estudando numa faculdade particular o que mais vejo é isso mesmo, acho até absurdo você ir pra faculdade com uma bolsa que custou uns tipo, R$3.000! Sério! É pra se mostrar mesmo!
    Gosto de comprar roupa da cea, riachuelo e renner. Gosto de comprar maquiagem na avon, natura e boticário. Gosto de não gastar o meu suado dinheiro com coisas que custam o triplo do preço de outras só porque foram feitas em NY e tem um logotipo gigante na frente. Gosto de comprar o que me faz sentir bem comigo e com a meu bolso. :)
    Amei o post Dani! Tá de parabéns! :*

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  9. Eu não dou tanta importância assim para as marcas, para mim o que pesa mesmo é a qualidade dos produtos que estou comprando. Bjs, Rose.

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  10. Eu acho que tem dois lados: As pessoas que compram um artigo que tem a logo nele porque gostam, como no caso das bolsas Chanel, que muita gente gosta de verdade do modelo e as iniciais estão nele e ninguém irá arrancar. E outras que compram só para poder mostrar e aparentar um certo status, nesse caso é uma idiotice!!!! Eu tenho bolsas que tem logo, que comprei porque gostei e pude pagar por elas sem me individar (pq se individar para comprar bolsa, roupa, sapato é triiiiiiiiiste!). Enfim, se gostar de uma peça e nela tiver a logo aparente, ok! Não vejo problema nenhum nisso. Se for comprar só para poder mostrar a logo, e como vc disse, sair andando toda torta para mostrar que a bolsa é Chanel, isso sim acho péssimo!
    Bjss

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  11. fazendo novena junto?

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  12. Tem toda razão, a Chanel é mais a marca que a roupa...confesso que quando fui na Chanel em março achei tudo tão cafoninha...entretanto os cosméticos são maravilhosos!!!

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  13. Nossa, que post! Primeira vez que venho por aqui! Isso sim é falar de moda, queria eu ter escrito isso!
    parabéns

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