Quando crescer

Às vezes eu me imagino lidando de uma maneira bem dificil com a passagem do tempo. Penso em como eu vou ser aos 40 e a imagem que vou ter de mim aos60, se vou me ver como eu sou ou se vou idealizar que ainda tenho 20 anos a menos. É difícil encarar essas coisas, a gente se olha no espelho todos os dias e o jeito como vive é dependente de como a gente se vê.

Quando você pensa em si mesma, toda a imagem que construiu ao longo da vida toda contribui pra maneira como se enxerga mesmo em aspectos mais subjetivos que uma ruga ou o cabelo branco. Deve ser muito difícil se reconhecer no espelho quando suas feições já estão bem diferentes do que você passou tanto tempo vendo. Hoje eu já sinto isso, às vezes, olho pra mim e vejo vários traços que não tinha há poucos anos, assim como percebo que outros sumiram.

Só que hoje eu só encaro mudanças. Daqui a vinte anos, vou encarar sinais da idade (sinais mais contundentes, já que pequenos sinais aparecem desde sempre). É possível que eu seja outra pessoa, com uma imagem que nada lembre o que eu sou hoje. Isso pode ser uma porcaria completa, ou só uma chance de ser alguém diferente na mesma vida.

Lidar com esse conflito pode ser difícil demais, e é numa dessas que qualquer uma pode virar uma dessas mulheres esticadíssimas que nem mais conseguem se olhar no espelho sem fazer diagnóstico pra outra plástica. Mulheres que nem se vêem mais como um todo, mas como uma pálpebra, um queixo, um inchaço.

Todo mundo pode chegar a esse nível de paranóia na tentativa de recuperar a imagem que tinha, de voltar a se reconhecer. Não é só procurando beleza, é procurando o que se acostumou a chamar de 'eu'.

Felizmente também existe o outro lado, em que se tem a idade que se tem. Em que a 'você' dos sessenta não é um resto do que era aos trinta, é alguém que está tão bem quanto pode estar sendo como é. Não é alguém parece ter cinquenta, é alguém que tem os melhores sessenta possíveis.

Não é mais a mesma e sabe ser outra, porque a vida tá pra mudança mesmo. A imagem da gente não existe pra que a gente se acostume com ela e isso tudo me veio à cabeça quando vi Helen Mirren de vestido de oncinha e jaqueta de couro num tapete vermelho:

No meio do tédio que costuma ser qualquer tapete vermelho, entre tanta regra besta e costume bobo, a mudança tinha que vir não de alguém que é nova, mas de quem aceita as renovações: suas e de tudo.