Impossível ser plenamente simpática de aparelho

O Bad Luck Brian é uma excessão

Você deve conhecer alguém que usa aparelho. Todo mundo conhece uma pessoa que teve a infelicidade de, depois de adulto, se ver na necessidade de usar um aparelho fixo, daqueles que tem borrachinhas, aros de metal e tem que ser apertado todo mês.

Pode ser que você tenha percebido que essa pessoa, depois do aparelho, não é mais a mesma. Ela já não é tão alegre, ela já não sorri tanto e isso te incomoda. Mas eu só gotaria de pedir uma coisa: moça, seja compreensiva.

A verdade é que não dá pra ser lá muito simpática quando se usa aparelho, porque ele é um inibidor de simpatia em diversas circunstâncias. Primeiro, quando você não consegue controlar e ri abertamente, na hora de voltar ao normal, os lábios podem topar no aparelho e pode ser exigido um esforço - e uma careta - pra colocar no lugar.

Em algumas fases, sem explcação, o aparelho pode começar a cortar a boca, do nada. Mas do nada mesmo. Então, a cada sorrisinho, um pedaço de ferro sem noção pode arrancar um taco de couro na sua boca.

Rir em fotos pode ser traduzido com uma releitura do clássico ditado "Se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come". Se você não ri, fica com aquela boca cheia, que quase não deixa os lábios encostarem um no outro. Se, por outro lado, você ri, não consegue ver nada no seu rosto que não seja meio quilo de metais brilhando.

Agora, por mais que esses problemas todos sejam terríveis, nenhum se compara a rir em refeições. Você simplesmente não consegue, seu super-ego não deixa. Se você estiver em uma mesa com todos os seus amigos contando as maiores piadas do mundo, nem assim você vai conseguir rir com vontade. É que, por mais que esteja tudo em ordem - e não está, a gente sabe que não está -, na sua cabeça só vem a imagem da sua boca com um pedaço de brócolis num dente, uma casca de feijão presa no outro, grãos de arroz pendurados nos ferrinhos e toda sorte de hortaliças presentes no prato visíveis nos dentes da frente. Comer sem um banheiro por perto vira uma tortura. Comer sem um líquido por perto vira hipótese fora de cogitação.

Desde agosto do ano passado que eu uso um belíssimo - só que não - e confortabilíssimo - só que nunca - aparelho fixo e, no dia em que eu tirar, ah, no dia em que eu tirar, vou gargalhar por quatro horas seguidas. E vou tirar fotos disso, de todo jeito, em todos os ângulos. Vou rir pra desconhecidos e acho até que vou trabalhar num quiosque de informações, apenas pra poder ser simpática profissionalmente, das oito às dezoito.